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A vaidade sempre foi uma característica associada aos brasileiros, e não sem razão. O país é um dos maiores mercados de beleza do mundo — o primeiro em cirurgias plásticas e perfumaria, o segundo em cuidados com o cabelo e o terceiro em cosméticos.
O culto ao corpo não para por aí. Nos últimos anos, o Brasil passou a chamar a atenção também pelo crescimento de negócios voltados para a malhação.
Já é o segundo maior mercado de academias em número de estabelecimentos, com quase 32.000 unidades — atrás apenas dos Estados Unidos —, o quarto em número de alunos (8 milhões) e o décimo em faturamento (2,4 bilhões de dólares), de acordo com a IHRSA, associação internacional do mundo “fitness”.
Na última década, o segmento deu origem a grandes empresas, como as redes de academias Bodytech e Companhia Athletica. Mas o mundo da malhação tem sido também um terreno fértil para o nascimento de pequenas e médias empresas. De acordo com a Associação Brasileira de Franchising, há mais de 6.000 franquias relacionadas à vida saudável, como academias, restaurantes, vestuários e calçados.
O setor já representa 8% do total de franquias no país — em 2013, eram 3%. Com o crescimento do mercado, os negócios têm se sofisticado. A moda agora é malhar em academias mais compactas e especializadas, com aulas intensas que misturam exercícios aeróbicos e anaeróbicos. Nos Estados Unidos, essas miniacademias já respondem por 21% do faturamento do setor.
No Brasil, a tendência começa a se consolidar agora. A academia Spin n’Soul centra seu serviço em apenas um tipo de aula — spinning — e hoje atrai por dia 250 alunos interessados em queimar até 800 calorias em 50 minutos. Daniel Nasser, sócio e idealizador do estúdio no Itaim, bairro nobre de São Paulo, nem precisou injetar mais dinheiro para pagar as contas após o quarto mês de funcionamento.
Hoje a unidade fatura 200.000 reais por mês. Para Nasser, um dos segredos do sucesso é o clima de comunidade que uma unidade pequena pode oferecer. É comum que a Spin n’Soul promova eventos especiais para os clientes, juntando aula de ioga, spinning e um almoço — light, é claro. Num mercado em que 99% das academias são micro e pequenas empresas, conseguir um lugar ao sol não é fácil.
É preciso encontrar um diferencial para se destacar da concorrência. Rafael Gobbi, sócio da Action 360, é um dos empresários que trocaram as academias tradicionais por estúdios “butiques”. Suas 11 unidades só oferecem aulas de pilates e ginástica funcional, método que demanda poucos aparelhos e está em plena moda.
Com uma estrutura mais enxuta, as unidades se tornam rentáveis em menos de seis meses, metade do tempo de uma academia tradicional. Assim como outras academias pequenas, a Action oferece pacotes e aulas avulsas — o cliente escolhe o que quer fazer, quando e com qual frequência.
Ou seja, paga apenas pelo que usar, uma boa opção para quem não quer correr o risco de contratar um plano longo e quase não frequentar as aulas — algo que, temos certeza, muitos dos atarefados leitores de EXAME costumam fazer a cada início de ano.
Mirando esse perfil comum entre clientes de academias, os sócios da rede Gympass lançaram em 2012 um modelo diferente: uma espécie de plano pré-pago que permite ao aluno usar qualquer academia conveniada. Quem compra um pacote pode fazer uma aula de pilates em um dia e uma de esgrima em outro — em qualquer região do país.
Hoje são mais de 6 000 academias cadastradas na rede da Gympass no Brasil, e a empresa já tem operações em mais cinco países. Com a crise econômica e o risco de desemprego, muitos brasileiros que querem cuidar do corpo buscam opções mais econômicas. Isso permitiu a expansão de academias como a SmartFit, que oferece planos por menos de 50 reais por mês.
Para poder cobrar esses preços, as academias adotam o estilo minimalista: poucas opções de aparelho e nada além do necessário. Tornou-se a maior rede (em número de lojas) da América Latina.
Outras academias remam na direção contrária, oferecendo serviços como loja de roupas de ginástica, lavanderia, lava-jato, petshop, manicure e até espaço para deixar as crianças brincando enquanto a mãe ou o pai estão malhando.
Apostando na tendência de integração de serviços, o empresário paulistano Humberto Munhoz e seus cinco sócios criaram em 2000 o FitFood, restaurante dentro do Reebok Sports Club, academia frequentada por endinheirados de São Paulo. O negócio prosperou, e os sócios abriram outros três restaurantes em academias. No ano passado, o grupo faturou 8 milhões de reais.
“Estamos estudando agora a abertura de franquias”, diz Munhoz. Para quem não tem tempo de comer na academia, uma opção que tem ganhado espaço são as marmitas light e os sucos funcionais, entregues em casa ou no escritório. A Pronto Light viu a demanda por pratos disparar, aumentando sua receita de 4 milhões para 10 milhões de reais entre 2013 e 2015.
Num mundo que valoriza cada vez mais a beleza, o setor de confecções não poderia ficar de fora. A Memo, marca de roupas de ginástica criada por Patrícia Birman — filha de Anderson Birman, fundador da Arezzo —, é uma das empresas que apostaram nesse setor. Além de três lojas próprias, a Memo tem produtos expostos em 50 lojas de atacado e vende pela internet.
Há basicamente três formas de entrar nesse mercado: começar um negócio do zero, abrir uma franquia ou licenciar uma marca já consolidada. No caso das franquias, o empresário precisa seguir à risca as diretrizes da detentora da marca em termos de design de loja, fornecedores e produtos e serviços oferecidos.
No licenciamento, o empresário pode adaptar seu negócio ao gosto dos clientes, como fazer uma promoção ou negociar com outros fornecedores. O licenciamento foi a opção que o educador físico Carlos Cintra encontrou para aumentar a rentabilidade de sua academia. Ele investiu na reforma de uma academia que já tinha e se associou à marca Runner, que estampa 20 unidades.
“A troca de marca valorizou meu negócio. Deixei de ser uma academia na multidão”, afirma. Cintra espera aumentar 60% o faturamento da unidade, que hoje é de 75 000 reais por mês. Tanto o licenciamento como a franquia exigem pagamento de taxas e royalties, o que pode inviabilizar o negócio.
Por isso, antes de se aventurar no mundo “fitness”, é preciso fazer um plano estratégico completo. Segundo o Sebrae, 24% das empresas brasileiras fecham as portas nos dois primeiros anos. Não basta malhar para deixar o negócio de pé.
Fonte: Revista Exame